Uoou, o terceiro ano estava a todo vapor! Com o uniforme feioso que íamos todos os dias pro colégio mostrando nossa árvore-pirulito estampada na frente. No meio do ano foram marcadas eleições para a direção da escola. Dois candidatos apareceram. Professora Edy e o professor Edivaldo. Todo o colégio tinha medo da professora Edy, todo colégio adorava o professor Edivaldo. Todo o colégio ia bem em geografia. Todo o colégio ia mal em matemática. A professora Edy era a mestra da matemática. Nossa estratégia estava muito bem definida, muito melhor do que qualquer agência publicitária poderia supor em suas vãs criações, nós estávamos decididos a eleger Edyzinha paz e amor. Se ela fosse eleita deixaria a disciplina e todos os alunos que já se sentiam pendurados poderiam passar de ano; imagina reprovar no terceiro, não rola. A campanha começou. Edy que sempre foi durona e muito séria foi aos poucos amolecendo aquele coração e andava de braços dados com Juliana pelo pátio, deixava que os meninos carregassem seu material e nós nos empenhávamos em puxar, digo, elevar o nome da professora na frente do restante do pátio. Tinha tudo pra dar certo.
Lá pelo meio da eleição os professores ainda estavam com suas respectivas disciplinas. Toca a sirene do fim do intervalo. Desligam o som da rádio que com certeza tocava uma das duas opções:
- alô galera de cowboy, alô galera de peão; ou,
- pra dentro dos seus olhos, pra dentro da memória te levei...
Fomos todos pra sala. Eu pego um giz e começo a escrever gigantemente na lousa: VOTE EM EDY, até que o professor Edivaldo aparece na porta. Ao que eu rapidamente emendo VOTE EM EDYVALDO. No fim das contas Edy teve 40 votos, o número de alunos do terceiro ano e Edivaldo os outros 2000 votos dos alunos do Poli, e foi eleito... Foi uma derrota por uma pequena margem.
Com a vitória do professor de geografia a disciplina foi ocupada por outro. Lá pela sua terceira semana de aula Roberto Marinho resolve morrer. Morto o dono da Globo o professor, egresso de uma universidade federal e que carregava ainda consigo a ânsia socialista de mudar o Brasil e nisso quase gritava pra gente Viva a Sociedade Alternativa, de barba e tudo, nos pergunta em sala: "Qual o maior brasileiro morto neste ano?" As opções eram Roberto Marinho ou um cara da ONU que tb havia morrido naqueles dias. Eduardo aqui prontamente berra: Roberto Marinho! Pra quê... começou a discussão. Eu, capitalista toda vida, discutindo com um socialista convicto que odiava a Globo e o sistema. (Pausa reflexiva: eu nunca entendi o sistema. Se ele cai no banco você não paga as contas, se ele fica fora do ar no call center você fica ouvindo musiquinha. E pra piorar, aqui em Brasília, na EPTG, aqui perto do Guará, tem a ONS, o Operador Nacional do Sistema. Toda vez que escuto esse nome ou passo por lá eu imagino um homem, um operador, cuidando de todo o sistema do Brasil. Alguém conhece esse operador nacional do sistema, é concurso?) E aí era livro voando, o saruê de Neura correndo, Juliana gritando, eu defendendo Roberto Marinho e o professor jogando sua pilha de livros na mesa e abandonando a turma. Saiu e não voltou mais. Nem lembro quem assumiu depois a matéria, mas perdemos o discípulo de Stálin, sumiu igual caneta Bic...
Vitórias... derrotas. Hoje pensei muito sobre isso. Eu tenho um grave defeito. Quando tenho minha opinião confrontada vou até o fim defendendo-a, não sei dar o braço a torcer e se estiver convicto de que to certo... aff. Não admito nada menos que a "vitória" numa discussão. Hoje me meti numa lide novamente, assim como 9 anos atrás. Depois de muito me esforçar mostrando meu ponto de vista me senti como na música do Pato Fu "As brigas que ganhei nenhum troféu... as brigas que perdi, essas sim, eu nunca esqueci". Nem sempre o resultado vitorioso de um confronto é positivo. Há certas coisas que não merecem ser ditas, por mais que sejam verdades - ainda mais quando se tem amizades em jogo. Sublimar... essa é a palavra de ordem em muita coisa na vida. Ser certo nem sempre nos dá o direito de mostrar essa certeza a todo custo. Nem todas verdades sinceras nos interessam, algumas merecem o silêncio. Sábio o homem que sabe ser político em todas as situações e imparcial nas horas mais necessárias. Eu tomo partido mesmo, vou até o fim e me lasco defendendo o que penso. Não me arrependo de ter dito o que disse, foi um desabafo durante uma enxaqueca sem-noção e muito forte. Mesmo assim vou falar menos, ou mesmo não falar nada, já está de bom tamanho. Como faz gente? Terapia? Cada vez que sentir vontade de defender uma opinião. Seja ela qual for.
- Feijão com arroz ou arroz com feijão?
- Qual a melhor comida, mineira ou goiana?
- Toddy é melhor que Nescau?
Não falo mais nada. Sei que estou certo em todas essas respostas (!!!!) mas, prefiro não comentar! Chega!